quarta-feira, 27 de abril de 2011

Alívio


No momento em que ela tirou as sandálias e colocou os pés no chão teve a certeza de que tudo ficaria bem. Ali, sem salto, sem barreiras, apenas ela e o mundo em sintonia perfeita de natureza nua. As costas foram relaxando, o grande peso dos ombros foi sumindo, os olhos se fecharam num misto de alegria e alívio...
E depois?
O que viria?
Era uma sensação de... nada. Nada estava por vir, não havia nada mais a ser feito.
Acabou de tirar toda a roupa calmamente, se serviu de uma dose de gim, encheu a banheira com água morna e lavou todo o sangue que ainda tinha nas mãos e na alma...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Fingimento


Ela sabia exatamente o que fazer quando surgia algum problema no trabalho. Resolver pepinos era com ela mesmo. Com a mesa cheia de papéis, livros, agenda, telefones, na frente do notebook era expert em grandes contatos, em fechamentos de contratos. Marcar reuniões, enviar e-mails de cobranças, de agradecimentos, de orçamentos, planilhas, contas, contas, contas.... todo dia, o dia todo.
Já na vida pessoal, problemas pareciam impossíveis de serem solucionados. Parecia que sofria cronicamente da Sindrome de Broken-heart. Sozinha, sempre sozinha, não conseguia entender o que a separava do resto do mundo emocional, das pessoas felizes que vivem em pares. Como entender um órgão que tem vida própria e insiste em bater por caminhos obscuros que exigem demais de sua inteligência e competência?
Coração egoísta que não a deixa escolher seus próprios caminhos!
Era assim que ela definia seu lado emocional: sem controle.
E a falta de controle dela sobre alguma coisa a deixava desesperada, ansiosa, angustiada. O que fazer? Fingir que esse lado da vida não existe e voltar para sua mesa cheia de papéis, livros, agenda, telefones, na frente do notebook era expert em grandes contatos, em fechamentos de contratos. Marcar reuniões, enviar e-mails de cobranças, de agradecimentos, de orçamentos, planilhas, contas, contas, contas.... todo dia, o dia todo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sem Razão


Sei chegar em você

Corpo, olhar, coração

Sei chegar de maneira

Que me quebra a razão


Traiçoeira certeza

Sanidade já foi

E me fica a vontade

Misturada com a dor


Manipula, descuida

Permeia em detalhes

Onde só fica a saudade

Da vida que a muito acabou.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mil interrogações no dia de hoje.


O que está acontecendo com o mundo?
O que as pessoas tem na cabeça?
Melhor, o que falta na cabeça de certas pessoas?
O que leva uma pessoa acordar numa manhã de quinta feira, se dirigir a uma escola e descarregar armas em crianças indefesas?
Não ia escrever sobre isso. Não queria. Mas não estou aguentando calada.
Tenho um filho da idade da maioria das crianças mortas. Que passa o dia na escola.
Área aberta para qualquer um entrar e fazer o que quiser?
É muito, muito triste saber que nossos filhos são criados com asas próprias para desbravarem o mundo sozinhos. Triste porque o mundo é só esse. Não existe um mundo melhor onde poderiamos soltá-los sem preocupação.
Existe dor maior que a dor do coração dilacerado de uma mãe.
Não, com certeza, com toda certeza do mundo, não.
E essas mães que choram hoje pela perda de seus filhinhos?
Existe consolo para elas?
Não, não e não.
Me solidarizo hoje com as mães de Realengo.
É difícil conter o choro enquanto escrevo, mas esquecer isso, não escrever sobre isso é o mesmo que aceitar viver numa sociedade que anda doente há muito tempo e simplesmente as pessoas fecham os olhos por comodismo.
Não vou aceitar.

Que Deus olhe pras Mães de Realengo.
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