sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Encarar o dia. Dá?


Tudo que tinha pra dar errado, deu!
Naquela manhã nublada o relógio resolveu não despertar e fez com que ela saltasse da cama direto para o banho sem nem respirar. O cabelo deveria ser preso, porque não haveria tempo para lavá-lo, muito menos usar o secador.
O casaco separado com capricho para ser usado naquele dia de outono se encontrou com uma mancha de café que se formou logo após ele se derramar quente num descuido próprio de quem corre para chegar a tempo aquela reunião importante marcada um mês antes.
Optar pelo carro também foi um erro. O trânsito em caos constante não estaria diferente naquele dia. Mas sem tempo para pensar, jogou todas as pastas e papeis no banco do carona, pulou para trás do volante e saiu para rodar 5 km antes de dar de cara com um engarrafamento monstro. A sua frente, milhares de carros coloridos formavam filas intermináveis pela rodovia cinzenta. Ela até pode sorrir nervosamente quando olhou o relógio e calculou que se tudo continuasse se arrastando naquele ritmo chegaria com antecedência de 2 minutos. Tempo suficiente para subir os degraus de dois em dois por três andares, se acomodar na mesa de reunião, abrir todos os projetos e respirar antes que chegasse alguém.
Cálculo errado!
Pelo rádio sintonizado nas notícias do trânsito, tentou caminhos alternativos e nem assim chegou com seus dois minutos de antecedência. O relógio já marcava 15 minutos de atraso e não existia uma vaga para estacionar. Sua vontade era deixar o carro ali, abandonado no meio da rua, mas sabia que se arrependeria desse gesto mais tarde e continuou procurando um pequeno espaço que fosse para parar seu carro.
Enfim conseguiu chegar a reunião. Com todos os fios de cabelo despenteados, esbaforida e tentando recuperar o folego, fez um esforço imenso para se concentrar e colocar a mesa ideias que agora pareciam distante depois da maratona para se chegar ali. Respirou fundo, refez seus planos mentalmente para poderem ser expostos e finalmente despejou tudo aos colaboradores que se encontravam atentos a cada palavra que saia de sua boca. E por fim a única coisa que recebeu como resposta foi: “Precisamos refletir. A ideia é boa, mas não tem o nosso perfil.”
O sorriso amarelo brotou-lhe a face e educadamente agradeceu retirando-se da sala. Tanto trabalho merecia uma resposta imediata. E positiva! Esperou entrar no elevador para deixar os ombros caírem e a testa enrugar cheia de interrogações. Ao sair do prédio não conseguia mais lembrar onde tinha conseguido aquele espaço para parar o carro. Procurou por alguns momentos, acionou o alarme para dar-lhe uma direção e nenhum som foi emitido. Andou alguns metros adiante e novamente o alarme estava m silêncio. Minha nossa, só faltava ter sido roubada, pensou. Depois de tentar o alarme por mais algumas vezes e já entrando em estado de desespero um homem baixo e robusto de olhar envergonhado bateu-lhe o ombro e perguntou:
- A senhora é a dona daquele ‘Paliozinho azul marinho’, não?
- Sim, não consigo me lembrar onde estacionei, cheguei tão atrasada, não prestei atenção. – estava dando desculpas para não parecer uma completa senhora lesada.
- Ahh, a senhora estacionou logo ali atrás, bem pertinho da portaria.
- Graças a Deus, obrigada. Mas não estou vendo ele por aqui.
- É que ele não está mais aqui...
- Fui ROUBADA???? – isso foi quase um grito.
- Não, não. A senhora foi rebocada. Parou em vaga proibida. E aqui é assim, eles não aliviam.
Sentindo um imenso peso nas costas e uma vontade absurda de chorar – mas não faria isso nunca na frente daquele homenzinho de metro e meio – sentou-se ao meio fio e olhou para o relógio. Ainda nem era meio-dia. O que mais faltava acontecer?
- Olha, se a senhora correr, ainda consegue tirar o carro do depósito hoje. Essas coisas demorammmmmmmmm. Sabe como é, né?
Sua vontade era deixar o carro pra lá, seguir de taxi até o aeroporto e pegar o primeiro avião para alguma ilha paradisíaca. Apenas dez dias bastariam... Mas a rotina deixa? Levantou-se, sacudiu a poeira da rua e seguiu em frente com seu dia que prometia ficar ainda pior.

7 comentários:

Sol disse...

posso garantir Rê, que quando estiver aposentada, podendo frequentar quantas ilhas paradisíacas quiser, chegará à conclusão de que essa correria, foi a melhor época da sua vida..

bjs.Sol

Betty Gaeta disse...

Oi Rê,
Seu conto parece a descrição dos meus dias qdo eu morava em Sampa. Eu até que ganhava bem, mas era uma loucura e eu não aguentei!
Beijos 1000 e um final de semana maravilhoso para vc.

www.gosto-disto.com

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Renata...maravilha de conto...a gente se vê nele em todos os aspectos, não existe coisa pior que já estar atrasado e não ter onde estacionar....rs...bate um nervoso....vixe...
E tudo dá errado...mas como alguem já disse....quando prdemos isso a gente acaba sentindo saudade da correria...pois a busca é o que nos impulsiona...todo o resto é consequencia
Um abraço na alma
Beijo

Tatiane Trajano disse...

Tem dia que a gente sai de casa e o mundo parece conspirar contra, pq tudo começa a dar errado.
Que desespero que bate!

disse...

aff esbaforida fiquei euzinha c uma manha dessas!!! As vezes reclamo dessa minha vida "mansa" por pura saudade dessa loucura diaria! bjs

regina ragazzi disse...

Ola! Pesquisando umas imagens acabei chegando até seu blog. Gostei dos seus textos. Ótimo seu conto.Vou te seguir. Abraços.

Marcos de Sousa disse...

Ontem meu dia foi assim. Mas uma hora passa, eu espero.

Beijos

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